Coisa escorreita e despretensiosa, formato comedido e
espessura a condizer, um jornal como deve ser, para mim, que estou ainda com
uma mão no século passado, folheando papel, e outra no século presente,
portátil à frente.
Por ali se iam contando as novidades do Concelho e
arrabaldes, nos chegavam alegrias e mágoas de Nisenses na diáspora, nos eram
oferecidos artigos de opinião sobre tudo e mais alguma coisa, colunas sobre a
nossa história e património, a inevitável necrologia, assunto grave e
circunspecto, entremeado de bodas de ouro e festas de artilheiros, que a vida
são dois dias mas o Carnaval são três.
Sei eu, os meus botões e algum infortunado ouvinte
ocasional, quantas vezes discordei da linha editorial do jornal.
Mas uma sempre lhe reconheci várias coisas: um constante pôr
o dedo na ferida, e para continuar nos provérbios, a frontalidade de sempre
chamar os bois pelos nomes, bem como uma convincente honestidade intelectual e
uma invejável pluralidade.
Continuo a achar, se calhar e nos tempos que correm, um
pouco contracorrente, que o desenvolvimento de um povo é directamente proporcional
ao seu nível cultural. Tenho também para mim que a existência e a leitura de
jornais são um bom índice de medida desse nível.
Estou hoje mais pobre, este concelho está hoje mais pobre.
Subsiste uma versão "online", que me sabe a hamburguer de plástico,
fraco substituto do suculento bife a que me habituei.
Porque me faz falta o MEU jornal, nem que seja apenas para
criticar as opiniões director!
José Monteiro in http://maladeporao.blogspot.com/