sábado, 28 de dezembro de 2013

DO ALTO DO TALEFE : O meu menino é de ouro

Ó meu menino da rua
Só, com uma chave na mão:
Quem é que brinca contigo?
Quem é que pede perdão?
O meu menino é de ouro. Pai, mãe, avó ou avô para cada um o seu menino é de ouro.
Quando nasce, aquele choro lindo, aquele sorriso lindo.
Quando gatinha, que lindo é. Quando palra, que lindo é o menino.
Quando faz tem-tem, e dá os primeiros passos que lindo é o menino.
E o menino cresce. Vai à escola o nosso menino, que lindo é o menino.
Que emoções desperta, na mãe que o adora, no pai que nele se revê, na avó e no avô que choram só de olhar para o seu menino.
Quando for grande o nosso menino vai ser... porque o nosso menino é de ouro.
Que emoções desperta o menino adolescente, que até há quem dele se apaixone.
Desperta emoções o menino. Mas, e as suas emoções?
O menino, os nossos meninos têm emoções, e crescem com elas, e constroem-se com elas.
As suas emoções surgem em cada instante, no contacto com os familiares e com o mundo que o rodeia. Mundo que começa por ser o berço e o colo da sua mãe, mas que rapidamente se alarga a um espaço muito para além da casa, da rua, da vila, da cidade.
Porque gosto disto ou daquilo? Porque me sensibilizo a ver isto? Porque me irrito ao presenciar aquilo? Porque me culpabilizo? Emoções, não se aprendem na escola. Mas quando reagimos desta ou daquele maneira, são as emoções que nos comandam.
Quando os meninos crescem e se tornam homens e mulheres, lá continuam as emoções a surgirem e a mostrarem-se em atitudes sensíveis ou insensíveis muitas vezes não controladas pelo lado racional, socializado pela vida em colectivo.
O nosso menino é de ouro mas vive num mundo de lata, que lhe desperta as mais desencontradas emoções.
A lata que nos dá a informação do mundo, mostra-nos diariamente cenas de guerra depois de discursos falando de paz e bem-estar.
A lata que nos mostra o mundo diz-nos que a vida colectiva deve ser solidária. Mas mostra-nos que a sociedade que vende em supermercados latas de comida para cães e gatos é a mesma sociedade que convive com gente que morre de fome e doença.
As latas que nos mostram o mundo, dizem-nos que milhões de meninos e de homens que não puderam ser meninos vivem do lixo, ao mesmo tempo que outros milhares correm para estádios para aplaudir méis dúzia de homens ou mulheres que fazendo algumas habilidades ganham fortunas.
As latas que nos mostram o mundo, exibem despudoradamente o lado feio da vida dos meninos de ouro sem nada, ao mesmo tempo que mostra o lado bonito de outros meninos de ouro com tudo.
As latas que nos mostram o mundo, apresentam concurso em que a ignorância é recompensada com carros, ouro e milhares de contos e depois informa que quem estudou está desempregado.
As latas que mostram o mundo, exibem festas de gente habilidosa que engana, trapaceia, ludibria e enriquece e a seguir mostra-nos bairros desgraçados com meninos a brincar em esgotos.
As latas que nos mostram o mundo, mostram alarvemente carnes apetitosas de mulheres, depois das moscas pousadas nos lábios de meninos a morrerem à fome e antes de cenas de matanças de homens esventrados e decepados.
As latas que mostram o mundo, mostram tudo isto à hora das refeições. Com a família reunida. Com os nossos meninos de ouro à mesa.
Que emoções despertam?
Todos nós temos ou tivemos os nossos meninos de ouro, que cresceram com as suas emoções.
Uns aprendem a conviver com as emoções, outros não.
E, quando alguns meninos não racionalizam as suas emoções e se tornam uma ameaça para a sociedade, lá estão as latas que mostram o mundo a fazer discursos sobre o porquê, depois de uns anúncios de detergentes e antes de um filme violento com direito a bola vermelha no canto superior direito.
Os nossos meninos de ouro têm emoções e nós também.
Saibamos viver com elas na sociedade que, para o bem e para o mal, vamos construindo.
Zé de Nisa – Jornal de Nisa – nº 73 – 20 Dez. 2000

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

PONTÁ BITÉFES: Uma subscrição para o Menir do Patalou

Primeiro, não se sabia quem eram os donos do terreno. Depois, os contactos eram difíceis e complexos, do tamanho da montanha erguida pelos burocratas da Praça do Pelourinho. Por iniciativa privada, vieram os proprietários, derrubaram-se as barreiras, desimpediram-se os burocráticos argumentos e pensou-se: É desta!
Qual quê. A maioria camarária que enxameia os discursos de “cultura” e de “património” diz não ter, agora, dinheiro para levantar o Menir, como se a tarefa ficasse tão dispendiosa como uma visita das “tias”.
O Patalou fica lá para “cascos de rolha” e uma pedra, mesmo gigante, está muito melhor deitada, dormindo a sono solto, tal como está há milhares de anos. Por que é que querem, afinal, levantar a pedra? Não estará melhor no sítio onde está? Sossegada e sem chatear ninguém? Já viram o investimento que temos de fazer nas Termas, ou na Zona Industrial? Não repararam, ainda, nos postos de trabalho que temos criado? E no combate à desertificação do concelho?
Uma pedra... Ainda se fosse um edifício de dez andares, uma rotunda, ou um monumento aos emigrantes...
Deixem-se disso e pensem mas é no progresso do concelho!

in "Jornal de Nisa" - 241 - 17/10/2007

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

OPINIÃO: Exploração de Urânio no concelho de Nisa

A QUEM APROVEITA?
O urânio nos últimos anos atingiu preços astronómicos. Esta situação deve-se à selagem de várias explorações que havia em países onde predominavam ditaduras e que hoje vivem em democracia.
Antes, as pessoas (mineiros) tinham de trabalhar nessas explorações porque eram obrigados pelo regime a caminhar para a morte prematura, pois que a sua duração de vida, normalmente, não ultrapassava os 40 anos e alguns destes anos de vida já eram de sofrimento, mas a sua recusa também tinha problemas e muitas vezes a vida ainda era mais abreviada. Todos sabemos que era assim...
Felizmente, para muitos destes povos, a situação é hoje muito diferente, porque os novos dirigentes acabaram com a exploração deste maldito minério, que é o pior que existe no planeta Terra, pois até no seu estado natural mata, porque é radioactivo.
Depois, em todas as suas aplicações, continua a matar, em centrais, bombas e submarinos nucleares, etc., etc. e ainda com a agravante de não se saber como guardar todos estes detritos, sobre os quais ninguém sabe o seu “comportamento”, nem a duração do perigo que representam e que se estima em centenas ou milhares de anos.
Há, no entanto, pessoas para quem só o dinheiro conta, não olhando a meios para conseguir os seus fins.
Esta espécie humana, que hoje em dia aparece em várias actividades, são pessoas mentalmente afectadas, porque só o dinheiro fácil os preocupa, sem saber que eles próprios e seus familiares, um dia poderão ser afectados pelo seu péssimo procedimento.
Não vamos permitir que esta espécie humana venha destruir o concelho de Nisa, pois temos exemplos concretos dos males provocados pelo urânio em todo o mundo.
De facto, não precisamos de ir lá fora em busca de exemplos, pois temo-los em Portugal, na Urgeiriça, onde houve exploração e urânio, que nos mostra com total clareza os seus efeitos.
Ali havia vida e alegria, hoje há angústia e sofrimento.
É um local já com grande dimensão aonde não é possível viver em segurança, nem novos nem idosos, as crianças que aparecem com doenças cancerígenas e também os idosos. Não há vida aquática, devido à contaminação das águas e a vegetação de todo o tipo, até as árvores, vão morrendo, numa morte originada pelas poeiras radioactivas, provenientes da exploração que o homem ali provocou.
O gás radioactivo chamada radão é altamente perigoso e segundo os entendidos, desloca-se com o vento aumentando, cada vez mais, a sua área de perigo.
Tudo isto é provocado pela ganância de alguns humanos, sempre o dinheiro fácil, mesmo que estejam em perigo milhares de vidas humanas.
Será isto que queremos para o concelho de Nisa? Provavelmente, não!
Eu pergunto: quando se fala no desenvolvimento do concelho, com alguma pompa, para que servirá o edifício das Termas, já de si exagerado, que está quase concluído?
Eu direi: para nada, pois a cerca de 400 metros está um filão do maldito minério.
As poucas explorações de lavoura que existem, mais algumas em fase de desenvolvimento, o famoso Queijo de Nisa, os enchidos, o desenvolvimento da Zona Industrial, para que servirá tudo isto?
Se a exploração do urânio for por diante, eu direi: para nada. Porque 15 ou 17 anos depois tudo estará a morrer, desertificado, sem interesse, levando as pessoas a procurar outros sítios, como está a acontecer na Urgeiriça. (Para maior esclarecimento veja-se o filme que passou na SIC em 16/9/07 sobre a referida localidade e os problemas das poucas pessoas que ainda lá vivem).
Se não é isto que queremos para o nosso concelho, aonde estão os representantes do povo? Que têm feito para esclarecer as pessoas sobre os perigos que as esperam?
Têm o dever de informar, com verdade, a população de todo o concelho e informar os nossos governantes de que não iremos consentir tal exploração.
É preciso criar postos de trabalho, mas não desta maneira, isto não traz benefícios para Nisa, traz, sim, miséria, doença e desertificação.
Creio que o senhor primeiro-ministro, Engº José Sócrates, que é uma pessoa competentíssima, com grande capacidade de análise e justiça, não irá consentir que tal exploração vá por diante.
Mas é preciso alertar as pessoas atempadamente, para não depararmos com factos consumados e são os eleitos do povo, pagos com os nossos impostos, que têm o dever de lutar para sanar de vez o problema.
Não podem ficar de braços cruzados e sem nada fazer, esperando apenas pelos acontecimentos que, a serem concretizados, serão fatais para o concelho.
Joaquim Costa - in "Jornal de Nisa" - nº 243 - 14/11/2007

MEMÓRIA DO JN: Uma fresta no Boqueirão (I)

Autárquicas à vista: vê-se a parra. Mas a uva?
Fez muito bem este jornal, garantindo a sua inequívoca divisa de génese, como independente, em descortinar desde já as vontades postas ao serviço das forças vivas dos partidos, as quais parecem hesitantes para levar esta Nisa do séc. XXI a caminho do Desenvolvimento que tem sido letra morta e onde, curiosamente, já comungaram todas as bandeiras partidárias, incluindo rostos.
Pela nossa parte, cremos que, venha quem vier dos rostos repetentes ou passadistas a pegar no nobre pendão da Câmara, mais não se adiantará do que ficar no rol do papel prometedor, mormente essa vaga de projectos até agora inconcretizáveis no âmbito da Economia concelhia – que é o “bico d´ obra” fatalista que Nisa tem sido desde há décadas, repletas de palavrosos marasmos.
E, se Nisa tem potencialidades! Oh, se tem!
Ninguém as vê?! Agarre-se pelo menos, numa delas, e caminhe-se para a concretização plena. Agora, projectos ambiciosos, cujos “edifícios” se começam pelo telhado, como aconteceu com a “célebre” Estalagem do Tejo? Ali ficou! Ali está, altaneira e só!
Não é só pensar em “consolidar votos”, em fazer demográcia pela democracia. A verdadeira revolução, ou mesmo reformismo, é Fazer e Fazer Bem, com o verdadeiro norteamento de servir a Todos e não só a alguns, ou sonhar com quimeras de paisagem que nada têm a ver com a transformação da realidade, mas aquela que gera a riqueza e os empregos.
O que pensarão os potenciais candidatos ou quem se perfila parece que à espera certa do surgimento de “andor”, duma economia a sério para o concelho de Nisa, quanto a nós “Barca” demasiado grande para ser concentrada na velha praça do Município, dia após dia, como no tempo em que os lagartos dormiam ao sol e Lisboa era de um outro mundo?
Pareceu-nos ouvir “rufar tambores” em favor de uma estratégia. Porém, quantas estratégias não tem havido, com arrobas de palavras e demasiado egocentrismo vedetista?
Perguntamos, com a devida vénia: Já algum nosso bravo Edil conseguiu atrair o investimento a Nisa, a não ser o caso estrito dos granitos de escoamento garantido?
Onde está o Queijo de Nisa? Onde? A sul de Portalegre e fora da velha Corte das Areias?
Quem se preocupa concretamente com uma verdadeira certificação da marca que detém o nome da notável vila de Nisa, quando o próprio queijo, primeiro que tudo, deveria ser feito numa “fábrica-piloto” e na própria sede do concelho, para dar o exemplo de autêntica produção artesanal, firmemente artesanal.
E a vertente enorme de turismo do Interior, hoje apreciado como o turismo da tranquilidade? Não vamos por ora, falar disto. Na altura própria voltaremos a este tema que tem pano para mangas...
Hoje, uma Autarquia do Interior, como Nisa não pode (ou não deve) viver voltada para si própria. Já se falou em capacidade consequente em oferta de amplas facilidades a quem se propõe fundar empresas e empregos diversificados neste concelho de enorme vínculo territorial?
Já se falou num certo esforço em renovar uma sociedade rural no âmbito do tecido empresarial agrícola, ainda que cooperativista ou não? Já se falou em publicitar vivamente o território concelhio no exterior, exaltando as suas potencialidades naturais, tanto no domínio do lúdico (caça e pesca desportivas), como na produção de bens de variada índole, para quem queira trabalhar e... Desenvolver?
Esta nos parece a verdadeira essência do Neo-Autarquismo que se avizinha, com os desafios inerentes ao final do primeiro lustro de um tempo... em que não se deve perder mais Tempo.
Já chega, caras Senhoras e Senhores da nossa terra!
Carlos Franco Figueiredo in "Jornal de Nisa" - nº172 - 22/12/2004

domingo, 1 de dezembro de 2013

PONTÁ BITÉFES: Memória do Jornal de Nisa

Calçada romana da Srª da Graça, que a insensatez de uns e o desleixo de outros, deixaram arrasar
Qual a Câmara, qual é ela?
“A par da inoperância gestionária da Câmara d. ......... , a sua situação financeira é preocupante, a sua gestão futura está hipotecada, tendo em conta os encargos já assumidos por ............., para os próximos vinte anos; na área da habitação, não foi lançada uma única pedra; a qualidade da água deixa muito a desejar; as “obras pombalinas” duram anos e anos e não se lhes vê o fim; a criação de oportunidades e emprego para os jovens são uma miragem; na chamada “zona industrial” não está instalada uma única empresa que represente criação de novos empregos; alguns trabalhos e ajustes directos, são só para os “amigos”, em vez de resultarem de concursos e procedimentos públicos correctamente divulgados.”
O primeiro leitor a acertar no nome da Câmara, a que se aplique este “naco” de prosa, tem direito ao livro “(A)massa Crítica” da colecção “Lágrimas de Crocodilo”.
Pontá Bitéfes - in "Jornal de Nisa" - nº 233

sábado, 23 de novembro de 2013

JORNAL DE NISA - Edição nº 11 - 17 Junho 1998

A edição nº 11 do Jornal de Nisa saíu a público no dia 17 de Junho de 1998. Com capa a preto e branco e título a vermelho, este número do "Quinzenário regionalista e independente" deu destaque à Feira do Queijo de Nisa e ao falecimento do professor Manuel Temudo Barreto. No interior, José Lopes, um nisense em França era descrito como desportista exemplar, por força dos êxitos no futebol, como praticante e treinador. Diversas notícias do concelho davam conta de algumas obras em execução, das principais deliberações da Câmara, do Convívio dos Amigos do Pé da Serra e do XXI Concurso e Pesca Vila de Nisa.
Luís Pedro Cruz assinava a habitual página Urb(a)Nisa sobre arquitectura e José Dinis Murta compunha um Puzzle sobre a história antiga e recente da vila de Nisa.
A Página da Saúde e artigos sobre os Padres de Nisa e Fragoso de Siqueira, um nisense de "vistas largas", eram outros dos motivos de interesse desta edição, onde não faltava o "Cantinho do Emigrante”.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

MEMÓRIA DO JORNAL DE NISA: Filho(s) de um Deus menor


Na edição de 15 de Abril de 1998, na secção Canto do Saco, o texto "Filho(s) de um Deus menor", denunciava uma situação social de extrema gravidade: o abandono a que fora votado um jovem com deficiência mental.
O problema foi, momentâneamente, solucionado, mas tempos depois, o drama repetiu-se, agora com maior intensidade. O Bernardo, que não é Bernardo, mas um nome em forma e dignidade de gente e pessoa humana, vive uma situação de completo e vergonhoso abandono por parte das entidades que superintendem na esfera social.
Anda pela vila, ao deus dará, alimentado-se como calha e dormindo (conseguirá, mesmo, dormir?) numa casa no centro histórico, que ameaça derruir a cada dia que passa e onde a chuva, o vento e o frio entram pelas gigantescas frestas que o estado de degradação do edifício, amplia, a cada instante.
O Bernardo, que não é Bernardo, mas um pessoa com nome e com direito à dignidade, não tem voz própria, nem consegue exteriorizar, racionalmente, a onda de revolta e indignação que lhe vai na alma.
Se assim não fosse, outro galo cantaria e as entidades com responsabilidades sociais na vila há muito que tinham sido obrigadas a olhar para o problema com o respeito e a urgência que o mesmo merece.
O Bernardo, se calhar, nem vota. Não tem o discernimento necessário para reclamar das entidades públicas, municipais e regionais, o apoio médico, social e humanitário a que, como cidadão, tem direito.
O Bernardo - com este ou outro nome - não é "Filho de um Deus menor" e aqui ou noutros locais, procuraremos que lhe seja prestada a assistência de que carece.
Mário Mendes