Na
edição de 15 de Abril de 1998, na secção Canto do Saco, o texto "Filho(s)
de um Deus menor", denunciava uma situação social de extrema gravidade: o
abandono a que fora votado um jovem com deficiência mental.
O
problema foi, momentâneamente, solucionado, mas tempos depois, o drama
repetiu-se, agora com maior intensidade. O Bernardo, que não é Bernardo, mas um
nome em forma e dignidade de gente e pessoa humana, vive uma situação de
completo e vergonhoso abandono por parte das entidades que superintendem na
esfera social.
Anda
pela vila, ao deus dará, alimentado-se como calha e dormindo (conseguirá,
mesmo, dormir?) numa casa no centro histórico, que ameaça derruir a cada dia
que passa e onde a chuva, o vento e o frio entram pelas gigantescas frestas que
o estado de degradação do edifício, amplia, a cada instante.
O
Bernardo, que não é Bernardo, mas um pessoa com nome e com direito à dignidade,
não tem voz própria, nem consegue exteriorizar, racionalmente, a onda de
revolta e indignação que lhe vai na alma.
Se
assim não fosse, outro galo cantaria e as entidades com responsabilidades
sociais na vila há muito que tinham sido obrigadas a olhar para o problema com
o respeito e a urgência que o mesmo merece.
O
Bernardo, se calhar, nem vota. Não tem o discernimento necessário para reclamar
das entidades públicas, municipais e regionais, o apoio médico, social e
humanitário a que, como cidadão, tem direito.
O
Bernardo - com este ou outro nome - não é "Filho de um Deus menor" e
aqui ou noutros locais, procuraremos que lhe seja prestada a assistência de que
carece.
Mário
Mendes