sexta-feira, 22 de novembro de 2013

MEMÓRIA DO JORNAL DE NISA: Filho(s) de um Deus menor


Na edição de 15 de Abril de 1998, na secção Canto do Saco, o texto "Filho(s) de um Deus menor", denunciava uma situação social de extrema gravidade: o abandono a que fora votado um jovem com deficiência mental.
O problema foi, momentâneamente, solucionado, mas tempos depois, o drama repetiu-se, agora com maior intensidade. O Bernardo, que não é Bernardo, mas um nome em forma e dignidade de gente e pessoa humana, vive uma situação de completo e vergonhoso abandono por parte das entidades que superintendem na esfera social.
Anda pela vila, ao deus dará, alimentado-se como calha e dormindo (conseguirá, mesmo, dormir?) numa casa no centro histórico, que ameaça derruir a cada dia que passa e onde a chuva, o vento e o frio entram pelas gigantescas frestas que o estado de degradação do edifício, amplia, a cada instante.
O Bernardo, que não é Bernardo, mas um pessoa com nome e com direito à dignidade, não tem voz própria, nem consegue exteriorizar, racionalmente, a onda de revolta e indignação que lhe vai na alma.
Se assim não fosse, outro galo cantaria e as entidades com responsabilidades sociais na vila há muito que tinham sido obrigadas a olhar para o problema com o respeito e a urgência que o mesmo merece.
O Bernardo, se calhar, nem vota. Não tem o discernimento necessário para reclamar das entidades públicas, municipais e regionais, o apoio médico, social e humanitário a que, como cidadão, tem direito.
O Bernardo - com este ou outro nome - não é "Filho de um Deus menor" e aqui ou noutros locais, procuraremos que lhe seja prestada a assistência de que carece.
Mário Mendes